Vivendo em outro país é comum nos apaixonarmos por uma pessoa de nacionalidade diferente da nossa. No pacote do amor entre dois estrangeiros vem junto discrepâncias pouco tranquilas de lidar.
Uma delas é o fato inegável de que a pessoa que está em seu país de origem é vista como privilegiada em alguns aspectos.
Isso pode causar ressentimento naquele que é o expatriado da história. Principalmente em dias difíceis, quando se vive situações desagradáveis de quem está recomeçando num novo lugar.
Essa sensação tende a piorar nas datas comemorativas e festas familiares, em que se passa mais tempo com a família local, que geralmente não é a nossa!
O que é diferente atrai, mas também dá briga
Estar com uma pessoa de nacionalidade diferente pressupõe uma postura mais flexível sobre o que é certo, normal ou esperado.
Nem sempre é simples perceber a importância dos costumes que não fizeram parte de nossa história.
É muito fácil se indispor com a pessoa querida ou sua família por não percebermos que estamos pisando em campo minado.
O mesmo vale para o caso oposto.
Uma característica que na nossa cultura é valorizada, como o otimismo por exemplo, em muitos casais interculturais já foi visto pelo outro integrante como ingenuidade e até como falta de responsabilidade perante a vida.
Essas nuances na forma de entender o mundo, que em parte foi construída pelo meio em que crescemos, muitas vezes é o que atrai a outra pessoa, mas em outro momento pode ser o que alavanca um desentendimento.
A discussão para acertar as arestas é necessária, mas também constitui um verdadeiro desafio!
Nem sempre, em outro idioma, se consegue a mesma delicadeza e profundidade que necessitamos para explicar os sentimentos difíceis de esclarecer até no idioma materno.
Sem falar da vontade que dá de apenas soltar o que se sente sem precisar “estrangeirizar” as emoções.
Mas, não tem jeito, lidar com os limitantes do vocabulário é algo diário. Procurar assumir uma postura humilde e aberta certamente também vai ajudar nessa hora.
Como lidar com os conflitos da relação amorosa
Para apaziguar os atritos é importante que haja conversas francas sobre aquilo que machuca.
Isso pode trazer à tona histórias e fatos sobre a vida do outro, o que é excelente para que cresça o entendimento sobre quem é cada um.
Não estou me referindo a ressuscitar as antigas relações amorosas. Essas devem ser mantidas na memória de quem as viveu.
Mas, saber a história de vida do(a) parceiro(a) permite compreender o significado de certas experiências para aquela pessoa, principalmente quando são muito diferente das nossas.
Buscar tomar as decisões em conjunto, sobretudo aquelas relacionadas ao futuro dos dois, também ajuda a afastar a falsa sensação de que a vida do parceiro que vive em seu país é mais fácil que a do radicado.
Assumir sua parte no processo da escolha ajuda a não sobrecarregar a outra pessoa com toda a responsabilidade.
Acompanhando histórias de relacionamentos interculturais, percebo que o integrante da dupla que vive no país natal carrega um alto sentimento de responsabilidade e culpa.
Sofrimento que na maior parte das vezes é pouco notado pelo expatriado, habitualmente cegado por suas angústias de adaptação ou saudade.
Coisa de gringo
Na hora da dor, outra coisa que fazemos sem querer, é acusar a cultura do outro pelo ruído dentro da relação.
Reduzimos o conflito a uma característica cultural. Dizendo que ele ou ela faz e pensa daquela forma porque “é coisa da sua terra” ou porque “aqui eles simplesmente são assim”.
Enterra-se, dessa maneira, a possibilidade de compreensão verdadeira do que o problema significa para o seu par e a possibilidade de entendimento entre os dois.
Vivendo o lado bom desse amor
Quando não está havendo uma disputa entre culturas e tradições o par ganha muito.
É bastante gratificante ensinar sobre nosso país a quem amamos. É igualmente gratificante aprender sobre um lugar através dos olhos de quem se ama.
É um lindo processo poder resgatar valores da própria terra ao se reaver com suas raízes no momento de mostrar ao amado a sua história.
Conhecer o mundo um do outro favorece que se relativize as verdades, tornando tudo mais discutível e negociável, algo fundamental em todo tipo de relação.
Será um jogo entre abrir-se e entrar no outro com respeito.
E você, vive um amor estrangeiro? Conta para a gente as delícias e dificuldades que enfrentou!
9 Responses
Concordo plenamente com o seu texto! Muitas vezes a relação é uma luta diária, aceitar e entender as diferenças culturais é cansativo e, muitas vezes bate a vontade de largar tudo e voltar para o nosso ninho!
Oi Leticia, tem dia que é mais difícil entender e se fazer entender né? Ainda bem que tem outros dias em que a linguagem é uma só: o amor e o vínculo presentes.
Oi Vanessa! Parabéns pelo seu post ele realmente mostra como nos sentimos. Eu atualmente namoro um italiano, muito patriota rs, e acabamos tendo alguns problemas de cultura, mas ao mesmo tempo, aprendemos muito das tradições de cada um. Ainda não falamos a língua um do outro, então nossas discussões são em inglês, o que complica ainda mais por não ser a língua materna de nenhum dos dois. Mas na maior parte do tempo nos entendemos e nos damos bem mais do que um brasileiro. Adorei o post ! Bj
Oi Mariam! Muito obrigada por deixar sua opinião! Conheço muitos casais que se relacionam num terceiro idioma e realmente muitas vezes surgem mal entendidos difíceis de esclarecer assim. Mas, difícil não quer dizer impossível né?! Que bom que na maior parte do tempo a relação é boa e isso supera as diferenças de costumes e até o patriotismo que às vezes pode ferir o outro sem que seja essa a intenção. Um beijo grande.
Muito bom texto!!! Estou adorando a página bjs
Muito obrigada Alyne! Beijos.
Que luta, viu?!
Principalmente quando são “patriotas”. Eles acham que têm o rei na barriga e esse rei é a pedra no caminho entre qualquer casal.
Estou numa situação que uma vez por mês temos uma discussão horrível em que um machuca o outro falando mal do país de cada um. Ele mais do que eu (na verdade ele nunca abriu a boca pra falar nada bom sobre o meu país). Cansa!
Amo meu marido, e a pesar de já ter quase 3 anos de casamento eu estou quase desistindo.
Tem que ter muita, mas muita paciência.
O que eu quero mesmo é respeito e está difícil de encontrar.
Oi Ana, que difícil não entrar nessa picuinha! Seu marido conhece bem o Brasil? Muitas vezes as “brincadeirinhas” passam conforme o outro vai tendo mais afeto pelo nosso país. É claro que não deveria ter nenhum tipo de fala de desmerecimento independente do vínculo com o Brasil, mas noto que o preconceito tende a mudar quando o parceiro/a está mais imerso, ainda que por nossa insistência, na cultura brasileira. Claro que ouvir falar mal da nossa pátria machuca e pode ser entendido como desvalorização de quem nasce lá, no caso você, talvez seu esposo não tenha entendido como te lastima. Além disso, a necessidade de afirmar nossa identidade como brasileiros cresce quando estamos no exterior e isso pode gerar mal entendido, como pensarem que há bronca em relação à cultura local ou resistência à adaptação e estimular uma certa defesa sobre o país estrangeiro. Espero que vocês possam se entender! Um grande abraço.
Ana, eu estou na mesma situaçao. E me sinto injustiçada e desrespeitada pois as discussoes sao sempre na lingua dele, entao ele consegue se expressar livremente enquanto eu ainda estou tentando construir uma linha de raciocìnio, no final ele passa por cima de mim sem que eu consiga completar um discurso, è angustiante. Jà falamos sobre isso e nada…
Também compartilho dessa impressao de que muitos deles sao o centro do mundo o que dificulta muito a flexibilidade, paciencia e alteridade que è necessaria em um relacionamento intercultural