Quando a gente está vivendo fora, os primeiros meses geralmente são como o começo de um namoro. Tudo é lindo e apaixonante. Depois de algum tempo com a vida já um pouco delineada, começamos a sentir falta do que era conhecido, desde coisas sem importância tipo a bolacha preferida, até mais complexas como família, amigos e lugares especiais.
Geralmente, nessa fase vem à mente aqueles questionamentos sobre a escolha feita e as dúvidas sobre a direção que o futuro tomará. Se as coisas estão demorando para acontecer multiplique esses pensamentos por 1000!
Nesse momento de angústia é comum haver uma sensação de irritabilidade pairando. É como se nada pudesse ocupar o lugar daquilo que está faltando. Às vezes, pode dar até uma raivinha do novo país e das pessoas dele, como se fossem insuficientes diante do nosso desamparo.
Nesses dias é preciso muita calma para não tomar decisões pautadas na dor. Dizem que nada dura para sempre não é? Então, esse big bode também terá seu fim!
A saudade pode te enganar se você não tiver claro o que está sentindo. Ela pode vir fantasiada de desespero, de tristeza, de angústia, de mau humor e até de arrependimento por ter se mudado. Por isso um autoexame é muito bem-vindo.
Bom, mas agora você foi sincero com você mesmo e percebeu do que sofria. Era saudade! Como lidar com ela?
Claro que cada um vai descobrir aquilo que funciona melhor em sua vida. Porém, darei algumas dicas que vejo funcionar comigo e com vários estrangeiros do meu entorno.
1- Primeiro de tudo, aprenda o idioma local.
Isso facilitará sua adaptação, aumentará as opções de programas e possibilitará novos contatos pessoais e profissionais. Senão, você ficará restrito ao grupo de brasileiros no seu país, o que me leva a segunda dica.
2- Encontre (ou crie!) uma comunidade de brasileiros.
Nós somos muitos e estamos por toda parte, certamente terá um grupo de compatriotas aí. Troque informações, conte suas experiências, pergunte sobre o que ainda não sabe, sempre haverá alguém disposto a ajudar e quem sabe até a fim de tomar uma cervejinha.
3- Ligue para as pessoas queridas que ficaram no Brasil. Mas, não faça isso no domingo!
Geralmente, os dias de domingo são cruéis com os expatriados. É um péssimo dia para ligar para os seus familiares e ouvir todos reunidos rindo de algo que você provavelmente já não entende. Durante a semana, em que todos estão fazendo atividades cotidianas, é menos provável alimentarmos a fantasia de que o mundo que deixamos está fantástico e só nossa vida parece estar sendo difícil.
4- Converse sobre seus sentimentos.
Faça isso com alguém ou consigo mesmo com a ajuda de um diário, por exemplo. Quando a gente expressa o que sente tudo fica mais claro. É como se colocássemos as peças sobre uma mesa, e agora que podemos ver todas elas, é possível organizar melhor as ideias.
5- Recrie uma parte do seu antigo mundo no novo cenário.
Descubra o que poderia te trazer maior sensação de pertencimento ao novo lugar e invista um pouco de atenção nisso. Pode ser retomar um antigo hábito, como os hobbies ou coisas mais palpáveis, como usar alguns objetos significativos para você na decoração da nova casa (quando alguém vier te visitar peça para que te traga). Também pode ajudar ouvir suas músicas favoritas ou cozinhar os pratos que você adora cujos ingredientes são possíveis de encontrar. Essa, para mim, é parte mais complicada do negócio!
É importante se concentrar nos aspectos positivos daquilo que está vivendo AGORA e na oportunidade de ampliar suas experiências. A vida fora do nosso país não é nada fácil, mas reflita: será que a vida no Brasil era sempre um mar de rosas? Já sabemos qual é a resposta!
E você, como tem lidado com a saudade? O que você faz para diminuir esse sentimento?
20 Responses
Ainda nao me mudei do Brasil, mas ja sinto saudades de cada detalhe… E se valerá a pena….
Faço votos que valha muito a pena Marcela. Boa sorte!
Vanessa, bom demais suas dicas, e com certeza falas de algo que senão todos, mas uma grande maioria dos brasileiros radicados aqui nos E.U.A vivenciam, como eu por exemplo. dinto muitas saudades da familia, dos amigos e de pequenas coisas que se antes pareciam insignificantes, hoje ganharam uma certa importância, devido a falta que hoje faz. Mas, tbém amo este pais no qual vivo agora, pois aqui construí uma vida, familia e tbém ganhei amigos. Bom, tudo tem uma razão em nossas vidas, as lém do mais, todas ad experiências são aprendazado. Mas, as dicas que você nos eferece são ótimss. Muito obrigada! 🙂
Obrigada por seu comentário Enilda!
Vivo a 3anos no Qatar; foi um choque grande porem se descobre que os”pre conceitos” que trazemos ou imaginamos são bem menos assustadores. A distância e a saudade só minimiza pelas facilidades como skype e whatsapp.
Mas passado o momento do deslumbramento e conhecimento da cultura atual fica um sentimento de não “pertencer” nem ao lugar onde se vive nem ao lugar de origem- Brasil.
É respirar inspirar pra não pirar
Respirar para não pirar é importante Mônica, gostei! Essa sensação de não pertencimento a lugar algum judia da gente né? Estou escrevendo um post sobre isso, sabia que tem até nome científico?! Ainda bem que não a sentimos o tempo todo e existem formas de amenizá-la. Em breve pensamos juntas sobre isso.
Ahhhh Vanessa. Seu texto fez cair lágrimas. Eu estou nessa fase do bad bode. Para piorar eu perdi meu pai em um acidente de moto a tres meses e eu queria muito dar um apoio para minha mae :(. Quando eu ligo pra ela no domingo e ela esta junto com minha família fico feliz de saber que ela tem companhia, mas me dá uma tristeza muito grande depois. Isso me fez questionar muito minha escolha e a unica coisa que eu queria era voltar, mas eu nao posso. Voltar significa desistir de outros projetos também. Minha cidade é pequena e as minhas perpectivas laborais e do meu esposo lá sao pequenas. Obrigada pelo texto. Forte abraco.
Nossa Grazielle, que momento difícil você está passando! Posso imaginar todos os questionamentos cruéis que rondam seus pensamentos. Que bom que você não está deixando que eles se apoderem de suas escolhas. Me sinto bem por saber que pôde encontrar um pouco de conforto neste texto. Um grande abraço.
Eu sou mãe de um rapaz que foi para outro país para estudar e alcançar o sinho de vida dele! Ainda é muito cedo ate porque foi exatamente no dia dessa publicação. Eu passei para ele sua mensagem e espero em Deus que ele consiga administrar tudo isso que com certeza irá passar…pensar…sentir.
Eu aqui com o coração pequeno tambem aproveito muito cada uma das palavras escrita aqui e espero muito saber aproveita-las. Desde ja estou com muita saudade!
Obrigada
Vanda, que bom que mesmo com o coração apertado você pôde ser generosa e apoiar o sonho do seu filho. Estou na torcida por essa história! Obrigada por dividir comigo. Grande abraço.
Olá Vanessa, sou coach e trabalho com expatriados, seus artigos tem sido excelente dica de leitura. Parabéns pelo seu trabalho e te desejo muito sucesso. Abs.
Oi Renata, muito obrigada! Fico feliz de saber que estou ajudando. Eu trabalho especialmente com expatriados, como psicóloga, através do site Mundo Interno. Abraço
Meu filho me mandou…nossa me dei conta da saudade dele e minha. Obrigada pelas dicas q muito o ajudará. Q bom termos pessoas como vc. Bjs
Oi Nelci, a saudade é grande quando moramos fora, mas quem fica também sofre com ela né? Fico feliz que seu filho tenha encontrado dicas que o ajude a lidar com os sentimentos que surgem quando imigramos. Beijos
Vanessa,
Muito obrigada, escutei por acaso, conversando com a filha do meu marido sobre minha sensação de estar morando na Alemanha, aprendendo o idioma, as dores e tristezas, que tenho sentido. E ela me mandou o link do Mundo Interno – Falar outro idioma, escutei sua entrevista com a convidada Lisa Russolo.
Voçê não tem noção, do alivio que eu senti, em poder entender toda minha dor e sentimentos.
obrigda,
Um Feliz Natal e Ano de 2018 abençoado
Olá Niésa, me deixa muito contente saber que o episódio sobre falar outro idioma tenha chegado em boa hora na sua vida e ajudado a entender sua dor. Com certeza você não está sozinha na conquista diária que é se expressar e se redescobrir numa nova língua. Um grande abraço!
Nossa… me identifiquei muito com o seu site e principalmente com esse texto…. Sim. .. Estou morando no Canada e depois de um tempo aqui, 2 anos, dei pra sentir raiva do pais, da cidade onde moro e dos canadenses…. haha… perfeito!! Vim para ca com a intenção de imigrar, como a grande maioria vem fazer college e depois arrumar emprego e imigrar.. completei a primeira fase alguns meses atras, nao participEi da festa de graduacao simplesmente pq nao tive vontade e senti que as pessoas comecaram a me olhar diferente por causa disso, como se eu fosse obrigada. Mas enfim, o meu maior problema é que eu vim de Sao Paulo para uma cidade super pequena, tipo uns 40 mil hab. E nao consigo me adaptar de maneira nenhuma… Muitas vezes me bate um arrependimento muito grande por ter escolhido esse lugar mas nao saio daqui sem o meu maior proposito. No momento me apego a minha casa e as coisas que construi ate agora, senao nao sei… mal vejo a hora de mudar de cidade… isso aqui esta me causando ranco… nem com os poucos brasileiros que moram aqui eu consigo desabafar pq a maioria vem de cidade pequena no Brasil e sentem que aqui eles tem muito mais opcoes do que no Brasil… ta bem facil (sacarsmo) mas vamos que vamos…
Puxa, posso imaginar como está dificil para você se sentir satisfeita numa cidade que não oferece exatamente o que você estava buscando. Por outro lado, que bom que existe a possibilidade de você tentar se sentir mais contente numa cidade maior. Conheço muitos casos em que a mudança de cidade resolveu a bronca inicial com o país e depois foi possível construir uma vida fora mais significativa. Espero que seja seu caso também! Um abraço.
Oii , me chamo Lara e acabei de me mudar pra fora do Brasil , sempre soube que seria difícil e apesar dos bons frutos que colhemos aqui fora nada cura a saudade das coisas simples e bestas de casa . Venho lidando com os altos e baixos todos os dias e apesar de sentir vontade de voltar pra casa sei que não é isso que realmente quero , decide viver com a saudade e a falta do pertencimento . Descobri seu texto através da minha psicóloga que vem me auxiliando nessa mudança e é sempre bom poder ler experiências de outras pessoas pra usar como um apoio .
Oi Lara, que bom que além do conforto em ler outras experiências que as pessoas dividem aqui, você também está tendo ajuda psicológica para lidar com a saudade e o não pertencimento. Eu sinto que isso vai ocupando lugares diferentes dentro da gente com o passar do tempo e a construção de novos espaços físicos e emocionais no país estrangeiro. Tem épocas em que sentimos mais saudade, como no inverno, nas datas especiais ou quando estamos adoentados, mas quanto mais você desenvolver uma espécie de lar aí, melhor vai atravessar esses dias de angústia e menos peixe de outro poço será. Muito boa sorte e beijo grande.